sexta-feira, 26 de junho de 2009

Receio que eu esteja em um processo criativo decadente. Percebe-se pelo tempo que passei sem publicar nada. Não sei bem quem disse isso, creio que tenha sido Irene Hunt, mas ouvi falar que verdadeiros escritores sempre encontram tempo para escrever; podem estar enfermos, absurdamente ocupados, não importa: o tempo de escrever é sagrado. As minhas justificativas além da falta de tempo talvez não convençam. Mas posso argumentar ressaltando algo que irrita qualquer escritor-merreca como essa que vos fala. Meu teclado quebrou! Sim, quebrou...Três teclas fundamentais perderam a função. Acento agudo que é bom, nada. Nunca o copia-e-cola foi tão usado nesse computador. O backspace também se foi... Estou tendo que me reacostumar a usar o "delete", e é um processo extremamente enfadonho. Ainda mais para uma pessoa que não tem tanto tempo assim para treinar. Viu? Não sou uma escritora de verdade.
Em breve voltarei com muitos textos. Não precisam aguardar com ansiedade; eles virão naturalmente.

Abraços e mil desculpas:
A proprietária.

domingo, 26 de abril de 2009

Doce real

Recriei meus amigos imaginários, e ando conversando demais com eles ultimamente. Eles me escutam e sabem exatamente o que eu quero que eles perguntem. Quando eu era uma pequena menina, tinha meus amigos imaginários sem-nome. Compreensível: sem muitas opções de lazer durante as tarde ociosas de segunda a sexta, tinha que criar minha própria diversão. As bonecas eram inanimadas e tão perfeitas que se tornavam chatas; ou seja, não me agradavam. Então, tive a iniciativa de criar uma legião de novos amigos visíveis apenas a mim. A minha imaginação voava, formando cada detalhes dos meus amigos, cada pedaço do corpo, cada composição do ser. Tinha a amiga boazinha, o queridinho de todos, a malvada e invejosa, o sedutor, a fofoqueira... personalidades distintas para a brincadeira não ficar chata. Certo dia, me dei a liberdade de convidar todos para uma festa na minha casa. Bem, uma criança de cinco anos fazendo uma festa para um bando de amigos que sequer existiam fisicamente é de preocupar. Com um velho controle remoto de televisor liguei para cada um deles e, após confirmada a presença, avisei à minha mãe. Depois de tentar me fazer entender em vão que crianças precisam combinar essas coisas com os pais antes de convidar todo mundo, ela concordou em me ajudar a preparar tal reunião. Comprou bolo, pipoca, refrigerante e doces. Não lhe ocorreu de perguntar quem viria à festa; afinal, ela conhecia todos os meus coleguinhas de escola e da rua. Chegado o dia da festa, numa tarde semanal ociosa, minha mãe trabalhava no horário combinado, o que a preocupou muito, apesar de os convidados serem poucos. Meus amigos chegaram animados. Lanchamos, rimos, cantamos, dançamos, conversamos. Quando minha mãe chegou à casa, logo suspeitou (erroneamente) que a festa tinha terminado.
- Ué, os convidados já foram?
- Não, mãe, ainda estão aqui...
- Onde?!
- Aqui, mãe! - Eu falava, apontando para cada um e dizendo seus nomes inventados de última hora.
Minha mãe deve ter imaginado que eu estava louca. Pelo menos, foi assim que interpretei a sua injúria... Penso no que ela deve imaginar hoje quando souber que meus amigos voltaram. Ah, esses meus amigos, me acompanharam durante tanto tempo. Sabem mais de mim do que eu mesma. Pudera: em qualquer momento de aflição, é a eles que recorro. Sempre nos mesmos lugares - no cantinho escuro do quarto, numa cadeira vazia do escritório, no espelho do banheiro. Só voltam quando algo me atormenta, como tem acontecido de uns tempos para cá. E eles sempre estão aqui, independente de hora, dia, mês ou ano. Escutam meus pensamentos, ouvem minha voz lânguida e embargada, afagam meus cabelos, não falam nada. Porque falar não é preciso.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Foram os tomates

A ideia surgiu repentinamente, em um momento de puro ócio, quando as crianças já haviam saído para a escola e o marido, para o trabalho. Essa era a pior hora do dia; a hora em que a casa ficava vazia e sugava o que havia dentro de Tânia para tentar se preencher. Tânia era uma mãe dedicada, esposa presente, dona-de-casa eficiente. Sempre dedicou suas horas na educação dos filhos. Amava o marido além de qualquer recompensa ou sentimento recíproco. Sabia que seu casamento era uma farsa, mas lhe era conveniente mantê-la - não suportaria viver com o coração esfacelado, e desaprendera a viver sem Tenório. Afinal, eram 15 anos de convivência diária. Mesmo com as grosserias do marido, ele parecia o homem ideal. Tenório era do tipo de homem que chegava do trabalho, largava a pasta sobre o sofá, deixava os sapatos dispersos no tapete da sala, o paletó no trinco da porta do banheiro... e assim saía se descompondo, até chegar no quarto vestindo apenas calças e meias. E ai de Tânia se não apanhasse suas coisas. Na verdade, ele não a ameaçava; ela achava que, se não o fizesse, seria abandonada. Já que o seu amor não era suficiente para agradá-lo, ela tentava ao menos ser útil.
Eis que naquela tarde sem afazeres uma ideia aflorou enquanto procurava meias sujas para lavar ou poeira nos móveis para limpar: fugiria de casa. Assim, todos sentiriam sua falta e implorariam pela sua volta. Foi o que fez. Não deixou maiores avisos, apenas um bilhete informando sua partida e pedindo que não se preocupassem: ela estava bem. Saiu carregando um pequeno fardo de roupas, o suficiente para pouco tempo. Só faltava saber para onde iria. Lembrou-se de uma velha amiga hospitaleira que não faria objeções em abrigá-la por um tempo. Seguiu caminho.
Os dois primeiro dias foram de pura tensão. Tânia não achou nenhuma manifestação de que procuravam por ela nas ruas nem na mídia. Nenhuma imploração de regresso. Mas imaginou que sua família não estava bem. Imaginou Tenório chegando em casa, largando sua maleta no sofá e espalhando seus pertences pela casa, sentindo falta do ser obediente que os recolhia logo depois. Sentiu que seus filhos estavam passando fome, sentindo falta de sua comida tão saborosa e nutritiva. Quis voltar logo, mas resolveu passar um pouco mais de tempo... Assim o tempo foi passando e Tânia não se deu conta. Depois de alguns anos, ela não suspeitou que a vida dos seus filhos e de Tenório poderia estar completamente diferente. Tânia deixou que eles sentissem sua falta ao ponto de esquecê-la, e foi assim que aconteceu: um certo dia, enquanto comprava tomates para sua amiga hospitaleira, Tânia viu Tenório e sua nova esposa, uma mulher madura e bem cuidada, em companhia de seus filhos, numa tarde feliz em família. Pobre Tânia...

quarta-feira, 4 de março de 2009

Absolutamente ficcional (com pouca qualidade)

Meus poderes acabaram e eu não posso mais te ajudar. Eu não quis te fazer infeliz, foi tudo uma leve brincadeira que acabou por me fazer descobrir o quanto eu não sirvo para você. Como eu queria te envolver agora, te falar o que eu sempre quis, o que eu já deveria ter dito há tempos. Mas não posso, estou sem poderes. É uma impotência que me domina, me faz deitar na relva e rolar por horas, sem notar as folhas que grudam nos meus cabelos e as joaninhas entrando na minha boca. Porque eu já não tenho domínio sobre mim. Já não tenho mais sentidos, não tenho pele, não tenho olhos, não tenho cérebro. Meu cérebro foi corroído pela minha falta de poderes. Eu não posso mais pensar em você. Queria te ajudar, mas estou precisando de ajuda. Preciso de água para tentar me reconstituir. Talvez o agá-dois-ó tenha me feito falta nesses dias. Não tenho comido, não tenho ingerido qualquer espécie de líquido. Não sinto fome nem sede, não sinto ternura, não sinto amor, raiva, pena ou sentimento de vingança. E nem quero; só queria sentir uma coisa: vontade de te ajudar. Assim eu também me ajudo e, talvez, ganho algum valor - se eu já tive algum, perdi há tempos. Não por vontade minha. Foi por vontade dos outros; foi obra dos outros.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Relato ou pedido de desculpas

Como um filho que retorna ao lar depois de muito tempo, aqui venho ser breve. As felicidades que me tomaram conta nos últimos meses foram suficiente para esvair a minha imaginação. É tanto, que busco histórias, busco personagens, e nada me vem à cabeça. Nada me agrada o suficiente ao ponto de escrever e mostrar aos outros. Meus poucos leitores conquistados devem me perdoar. Se fosse uma tristeza, já teriam saído de mim pelo menos dez pequenas ficções; mas a alegria não tem esse poder de me inspirar.
Em breve, estarei retornando: com tempo, com ideias (sem acento para ir acostumando), com afetos (e desafetos), com amores (ou não).