segunda-feira, 21 de julho de 2008

Tonho

Sendo um homem muito disposto e trabalhador, o reumatismo só lhe trouxe regresso. Doença é sinônimo de decadência. Logo Tonho, um senhor acostumado desde criança a trabalhar com cana e com gado. Sua mãe morreu no dia do seu nascimento. Tonho foi amamentado por uma ama que cuidou dele até o último suspiro. Seu pai lhe ensinou a lavrar a terra, a ordenhar o gado e a moer a cana. As coisas da vida, Tonho foi aprendendo sozinho: o pai era um homem de poucas palavras, sisudo, e raramente ficava em casa fora do horário de trabalho. Sua cachaça e sua noite de prazer lhe eram indispensáveis. Nunca pensou em levar Tonho aos locais que freqüentava. Achava que o rapaz só ia atrapalhar. Na verdade, o pai nunca olhou para ele como um filho, e sim como um empregado, que tem obrigação de dar conforto e fartura ao patrão.
Fazendo trabalhos extras, Tonho conseguiu juntar um dinheiro. As opções de bico eram poucas e a remuneração era rala, mas para alguém como Tonho, que não gastava com vulgaridades, dava para sobreviver até arrumar um emprego. Com o dinheiro que juntou, Tonho ganhou o mundo. Finalmente, pôde descobrir os mistérios da vida: as mulheres nuas, cruas e baratas; a água que desce goela abaixo, provocando a impressão de forte corrosão; as feiras, os circos e a vida vadia. Mas o gosto pelo trabalho não se esvaiu de Tonho. Nas noitadas, que se tornaram corriqueiras, Tonho conheceu Neuza. Neuza era uma mulher simpática, extrovertida e diferente das outras mulheres por ser menos recatada, e ainda assim honrada, honesta, donzela. Ela era uma mulher de muito amigos e apreciava uma branquinha. Tonho se engraçou de Neuza, e foram morar juntos numa fazenda no único distrito da cidade.
No começo, era um mar de rosas. Em uma eterna lua-de-mel, até um arroto de Tonho era engraçadinho, e Neuza, ao despertar de olho inchado, mau-hálito e completamente despenteada, além do mau-humor, era uma ninfa perfeita. Durante o dia, Tonho cumpria as obrigações do ofício de vaqueiro. No fim da tarde, voltava para seu casebre e amava loucamente sua mulher, e isso aumentava seu vigor no dia seguinte.
O tempo foi passando, Tonho envelhecendo e o fogo de Neuza aumentando. O trabalho na fazenda só aumentava. O antigo patrão morrera, e o seu filho tomou posse das terras do falecido. O filho era um carrasco, ordenava tarefas dispensáveis e irrelevantes, além de diminuir o salário de Tonho e aumentar a jornada de trabalho. Tonho já não era o mesmo homem disposto de antes. Suas atenções ficaram concentradas no trabalho. Se, quando menino, ele era econômico e de poucos vícios, agora era pródigo em futilidades e virara um beberrão, coisa que aprendera com Neuza. Neuza também não era a mesma mulher de antes. O seu fogo para o amor continuava, e Tonho não tinha fôlego para saciá-la. Ela pensou numa tática para ir à cidade: comprar rapadura e açúcar. No primeiro dia, Tonho nem desconfiou, e Neuza amou Valença. Na semana seguinte, ela resolveu prosseguir com o plano. Os produtos eram café e azeite, e Neuza amou Camilo. Assim, passaram dois meses, até que Neuza resolveu ir embora de vez. O reumatismo já começava a atacar o pobre Tonho, e ela dizia que não era mulher para cuidar de homem doente. E não cuidou mesmo: fugiu com Leocádio, um grande amigo de Tonho na infância, que se transformara no seu maior inimigo.
Tonho se encheu de remorsos, e se culpou durante muito tempo. Esperava-a na porteira, por várias horas, até que cansou e resolveu continuar sua vida de vaqueiro reumático, sem mulher, filhos (Neuza era estéril, mas nunca revelou detalhes a Tonho), com pouco dinheiro e meia dúzia de gado magro.

3 comentários:

Leidson Germano disse...

Na minha opinião, o conto retrata uma relação onde não há amor, sendo assim quando a chama da paixão que os uniram apagou, nada restou a não ser cada um seguir o seu caminho.
Novamente a parabenizo pelo excelente conto.
Beijos

Anônimo disse...

Conto triste...
Parecendo Machado de Assis
Com seus contos de corno
kkkkkkkkkkkkk

Gostei viu!!!

=*

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkkkkkk, tá muito legall
minah amiga tem talendo, quase uam Machado de Assis x)

;**