quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Don Juan (de volta à fantasia)

Passei em frente a uma loja de automóveis e foi amor à primeira vista: Um carrinho velhinho, mas bem conservado, vermelho-vivo. Não sei se o vírus do consumismo me contaminou, mas eu quis imediatamente ter aquele carro só para mim, e tive ciúmes de todas as pessoas que o olhavam e o almejavam. Don Juan - o carro, porque tudo que é amado tem que ter um nome - seria só meu, com os arranhões discretos no porta-malas e aquele amassadinho na roda traseira que quase ninguém percebe. O Don Juan iria percorrer becos, ruas e avenidas, e subir e descer ladeiras com a força de um possante do ano. Iria acomodar moças com esmaltes do mesmo tom de vermelho. Os planos para o Don Juan estavam feitos e arquivados. Agora só faltava ter o carro.
Como conseguir dinheiro? Assaltar um banco estava fora de cogitação. A última tentativa foi muito arriscada e quase que íamos em cana. Nada de bancos, armazéns, imobiliárias, seguradoras, ou qualquer coisa que envolvesse roubo. Se fosse assim, era mais fácil roubar o próprio carro. Pensei em pedir um empréstimo a uma tia distante e muito rica. Sendo a velha deveras ranzinza e sovina, nem levei a idéia absurda adiante. Ela iria querer que eu desse algo de garantia. Imagina, me desfazer dos meus pertences tão queridos? O Don Juan não vale o sacrifício de ficar na mão da tia avarenta. Depois de tanto pensar, não restou outra alternativa a não ser a pior coisa que alguém já inventou: trabalhar. Um marmanjo que sempre parasitou os outros e nunca fez nada de útil na vida ia ter que conseguir trabalho, mesmo sem experiência. Parti para o ataque. Procurei em todos os cantos à minha altura, mas os donos dos estabelecimentos me negavam um empreguinho de faxineiro que fosse. Até que um contato me conseguiu uma vaga numa fazenda de criação suína. Credo! Trabalhar com porcos! Péssimo para um primeiro emprego. Traumatiza qualquer mendigo miserável. Mas isso o Don Juan valia.
Quero poupá-los de uma descrição detalhada dos meus primeiros dias de peão. Sintetizando: tive que ir morar longe da civilização e do Don Juan, sujeito a qualquer tipo de mazela, andando quilômetros a pé para admirar o meu objeto de desejo e ainda criando porcos fedidos. Só sendo um sujeito muito azarado como eu para sofrer uma reviravolta dessas na vida em tão pouco tempo. E tudo por causa de um carro. O meu patrão era um sujeito muito bondoso e foi fácil aplicar-lhe um bom golpe, digno de troco na hora da compra do Don Juan.
Enfim! Consegui o meu carrinho, melhor que uma cirurgia plástica, meu lindo vermelhinho. Por onde eu passava, recebia olhares fatais de senhoritas da mais alta sociedade. Só um carro como o Don Juan para me deixar tão belo. Fazendo jus ao nome que lhe foi dado.
Um certo domingo, levei o Don Juan para passear. Mas eis que vi algo que roubou a minha atenção pelo tempo suficiente para acontecer a desgraça. Uma motocicleta prateada e brilhante quis ser minha para sempre, me chamou e a tentação foi aumentando. Então, surgiu um poste de algum lugar na minha frente. Mas de onde? Tarde demais para tentar responder. Adeus, Don Juan e dias de sacrifício junto aos porcos.

1 comentários:

Anônimo disse...

jujujujujuju linda linda linda linda!!!!!!

encontrei seu blog por acaso....que lindo!!! pecado que eu nao tenho tempo pra ler tudo... :(

to morrendo de saudadessssss de vccc.....me escreva de vez em quandoooooo!! e de meu email a papai viu??!

milhoes de beijossssssssss...

te amooo maninha minha do coracao...

beth