domingo, 26 de outubro de 2008

O homem calado e triste

Era um homem calado e triste, trancado dentro do seu apartamento durante a sua vida inteira. E observava tudo em um binóculo. Nada passava incólume pelas lentes do aparelho. Por isso, era triste. Via o mundo como ninguém. Podia sair do seu apartamento e ensinar qualquer um a viver. Talvez essa fosse a sua missão, ainda não cumprida. O fato era que o mundo estava um caos. O homem calado e triste se afundava cada vez mais no seu silêncio e na sua tristeza. E com razão: sempre via atrocidades; pessoas que se matavam, matavam outras, assistiam alheias a outras mortes; pessoas que não se respeitavam, não respeitavam outras, e ainda semeavam o desrespeito pelo resto do mundo. Além disso, ele via coisas erradas e sem conserto. E pessoas erradas e sem conserto. O mundo estava de cabeça para baixo: assim pensava o homem calado e triste.
Eis que um belo dia, as suas lentes varrem uma imagem que parecia surreal. Uma imagem que ficaria gravada na mente de qualquer habitante deste mundo inóspito. Uma imagem que ele fez questão de não descrever, de pôr um sorriso no rosto e falar:
- Que maravilha!
Sinal de que o mundo tinha jeito. Pela expressão, parecia ser um ato solidário. Ou não, um gesto de amizade desinteressada. Até mesmo um sinal de amor, humano ou não.
O homem ficou satisfeito. Saiu do seu apartamento, e foi ensinar o resto do mundo a viver harmoniosamente. Afinal, essa era a sua missão.

3 comentários:

Rebeca Ribeiro disse...

Que lindo... Me lembrou uma piadinha de quando eu era criança, só que contada de forma poética...

Abraço!

PS: Obrigada pelas visitas constantes ao meu blog. Eu não sou tão assidua assim, mas assino seu feed. Então, mesmo não comentando, leio.

- disse...

isso, um acaso contado poeticamente. é assim que fazer, ju. gostei desse!

danilo disse...

parabéns!eu não sabia que vc tinha esse lado de escritora,me fez lembrar gabriel garcia marquez.um abraço juliana.